os olhos
me olharam quando eu tentava desviar do espelho atrás do balcão daquele bar. Me olharam, consumiram com minhas forças e qualquer tentativa possível de comunicação da minha parte. Me apagaram, sumiram comigo e todos os outros daquele bar – incluindo o espelho. E era eu e o par de olhos.
a boca
devolvia a fumaça do cigarro, falando alguma coisa inaudível. Era eu e a boca. Os lábios pintados de vermelho, os dentes brancos e a língua percorrendo alguma frase. E Me beijou. Exasperada. Volátil, sem cessar. E eu estava ali, rendido. Como se todos os muxoxos ensaiados jamais tivessem existido. Me beijava.
as mãos
me aproximavam mais ainda daquele corpo. Soltavam-me de mim. Colavam-me nela, arranhavam-me forte. Os dedos, gelados, percorriam minha pele. E me aqueciam. Cada vez mais me afastava de tudo o que acontecia fora de nós. E caminhávamos, colados, lentamente, olhos, bocas e mãos para a parede lateral daquele lugar. Eis que ninguém mais estava lá.
os quadris
se moviam incessantemente. Contorciam, pressionavam-me e me empurravam contra a cama. E as mãos e os olhos. E eu beijava aqueles lábios. E os quadris, inquietos, vinham e voltavam. Ninguém mais via. Só nós.
as pernas
se entrelaçavam nas minhas, friccionavam, contraíam. Abriam. Sustentavam a pose. A posição. Tremiam, um pouco, por um pouco de tempo. Relaxavam. Por um pouco de tempo.
os pés
com os saltos calçados, caminhavam para fora, ritmados. Param para a porta abrir. E a porta se fecha. Eu acordo. Ninguém mais está lá. Só eu. Levanto, atordoado, e olho para o espelho. Nele, escrito em batom, vermelho: muito prazer.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
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Somos Bem Normais: Srta.
os olhos me olharam quando eu tentava desviar do espelho atrás do balcão daquele bar. Me olharam, consumiram com minhas fo...
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lindo!
ResponderExcluirAcho que está mais que na cara que é um dos meus preferidos.
ResponderExcluirAdorei João!
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