Eis que o meu companheiro do escritório grita meu nome. Vem
até a minha mesa, se debruça e diz: amigão, você precisa relaxar. Conheço um
lugar perfeito para isto. E nós vamos hoje depois do turno. Como resposta,
apenas mantive os olhos nos dele, esperando que saísse.
E dezoito horas ele veio me
buscar na porta da sala: vamos, agora é a nossa hora. E fomos.
Chegamos no lugar com o anoitecer.
O edifício lembrava um pequeno castelo. Era antigo, com muitas janelas de
quartos e algumas luzes já acesas. Fomos recebidos por uma mulher que
aparentava uns trinta e tantos anos. Loira, alta e suficientemente simpática.
Conhecia meu colega pelo nome. Olhou para mim, sorriu e disse: escolha um dos
quartos, querido, fique à vontade. Recebi dois tapinhas nas costas de meu
colega. Ele caminhou alguns passos e entrou no segundo quarto à esquerda. Me
sentia perdido. Fui caminhando pelo grande corredor, observando os quartos.
Percebi que cada um deles era direcionado para um gosto. Vi uma mulher bastante
alta e vestida em couro em um quarto, uma
outra loira, franzina, usando algum instrumento sadomasoquista na boca.
Vi também quatro mulheres aparentemente comuns e um par de gordas no penúltimo
quarto do andar de cima. Elas vestiam pequenos shorts e olhavam para frente,
calmas. O último quarto estava vazio. Me senti seguro o suficiente para entrar.
Neste quarto havia uma cama de
casal, um abajur em cima de um criado mudo, com um maço de cigarros, um consolo
e dois isqueiros em sua gaveta e uma porta que dava para um possível banheiro.
Confortável o suficiente. Entrei e tentei acender um cigarro – não fumava havia
dois ou três anos. Tossi. E daquela porta sai uma moça aos prantos. Mais nova
do que eu, seminua. Ela chorava muito, convulsionando seus soluços. Gritava por
nãos e outras frases incompreensíveis. E eu estava sentado na cama, ao lado
dela, assustado. Ela me abraçou e continuou chorando. Não sabia o que fazer.
Tentei acalmá-la, está tudo bem? O que aconteceu? E ela fungou seu nariz e
acendeu um cigarro. Perguntou o que eu queria. E eu não queria nada, o Fonseca
foi quem me trouxe aqui.
Então estávamos deitados na cama,
lado a lado. Reaprendi a fumar e falei para ela sobre como odiava meu emprego e
da minha vida falei sobre ser sozinho. E ela perguntou o que eu fazia. E
respondi, ela riu. Está rindo de quê? Nunca diga para uma puta que seu emprego
é ruim, ela me disse. Ela tinha senso de humor.
E nunca me disse o quê chorava.
Na volta, Fonseca me falava como
gostava da sua garota e o que fazia com ela. Disse-me que gostava de devassar.
Martirizá-la, usou este termo. Seu celular toca e ele atende: estou chegando,
benzinho. Que que traga algo da rua para você? Eu te amo, ok? Ok. Pedi para
pararmos e comprarmos cigarros. Ele sorriu. Não te vejo fumar desde que você era
mais jovem, mais feliz. Teve uma boa noite, não teve, garotão?
Meu apartamento era de um
silêncio incrível. Retirei o cinzeiro da gaveta. Dormi na sala. Tive uma boa
noite.
Os dias corriam, me sentia um
pouco mais leve. E Fonseca me pergunta: quer comparecer novamente? Respondi
afirmativamente e novamente fui ao último quarto. Desta vez, conversamos sobre
família, sobre gostos, e ela pergunta: você não vai me foder? Respondi
negativamente, preferia conversar. Sentia que era isso que precisava. E tive
outra boa noite.
Na terceira semana Fonseca liga
no meu ramal e diz: hoje quero tentar algo diferente. Riu, desligou. Eu passei
a sexta feira inteira pensando em quê falar. Estava pensando em um possível
contato íntimo. Mas não queria forçá-la. Não gosto disso e já vi aquela menina
chorar.
Dezoito horas. Fonseca havia me
dito para ir no meu próprio carro. Chego ao pequeno castelo e estaciono ao lado
do carro de meu colega, digo olá para a loira e me dirijo ao quarto dela. Porta
trancada. Ouvia gritos dela, ouvia barulhos. Ouvia tudo. Conseguia identificar
a voz dela gritando não. E consegui identificar os urros masculinos. Era
Fonseca, gordo, suado, sedento. Engoli seco.
Saí daquele lugar e permaneci
dentro do carro. Me sentia péssimo. Não havia pensado em estar apaixonado pela
garota. Desde aquele choro, nossas conversas, seu senso de humor. E agora o
Fonseca estava fodendo ela. E ela estava gritando. Eu sentia os pelos de sua
barriga suada roçando o ventre dela. Eu sentia as púbis em atrito. E o grito
dela.
Acordei daquilo com o Fonseca
batendo no vidro do meu carro: E aí, amigão? Como foi a noite? Você parece
cansado. Risadas. Escuta aqui, meu carro pifou, tem como você me levar pra
casa, amigo? Acho que foi bateria.
E era ele e eu dentro do meu
carro. E ele me contanto suas desventuras. Falou que fez a putinha tremer e
gritar como uma novilha. E eu dirigia atônito até a casa dele.
Chegamos. Fique pro jantar, meu
amigo. Não respondi, apenas saí do carro e me dirigi com ele à porta. Sua
mulher nos saudou. Muito simpática, disse que o jantar estava quase pronto.
Sentei-me na mesa da cozinha, enquanto ela terminava de mexer as panelas.
Fonseca disse que ia ao banho. E então começamos a conversar. Me perguntou como
estava a vida, o trabalho, o Fonseca. Fiz duas ou três perguntas para ela e ela
respondeu sem se virar do fogão. Desligou o fogo, saiu da cozinha e foi
verificar se o marido continuava no banho. Sentou-se à minha frente e me disse,
com um olhar sério, a expressão um pouco preocupada. Eu queria lhe dizer uma
coisa. Sei que você é amigo de meu marido e respeito muito isso. Mas eu me
sinto, me sinto... me sinto muito atraída por você. Fonseca é um bom homem, mas
não sei o que acontece, eu tenho pensado em você. E pegou minhas mãos. Jura por
deus que não conta isso para ele. Juro sim, não se preocupe. Levantou-se e veio
a mim. Se aproximou para um beijo desesperado. Desviei, me desculpei e disse
que tinha de sair. Não comi com eles. Fui ao pequeno castelo, direto ao último
quarto. Entrei, abracei a minha garota e chorei em seus braços. Tive uma boa
noite.
"Nunca diga para uma puta que seu emprego é ruim", PERFEITO João.
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