Lembro que quando tinha uns
dezesseis, dezessete anos, minha única e grande diversão era ir à missa com
minha mãe. Católica fervorosa, começou a me levar nas eucaristias, cercos de Jericó
e missas desde meus quatro anos. Com o tempo aprendi a gostar muito desses
ambientes.
Quando a menarca veio, tardia,
aos meus quinze anos, fiquei desesperada. Chorei compulsivamente enquanto via
minhas mãos ensanguentadas. Corri à minha mãe e, enquanto via minhas pernas
sendo manchadas por sangue, levava três tapas na cara. Me limpei e corri para a
igreja, para falar com o padre. Confessar meu novo pecado.
Padre, me perdoe, eu pequei. Mas
por quê, minha filha? E contei a ele o que havia acontecido. Ele demonstrou
muito interesse no meu caso e pediu para que eu contasse mais. E prossegui até às
lágrimas novamente. Reze um terço todas as noites e que deus lhe abençoe.
O padre Gerônimo, grande
conhecido da pequena cidade onde morava, saiu de sua cabine e veio até mim.
Segurou minhas mãos. As dele estavam quentes e macias. Falou: Não se preocupe.
Vai ficar tudo bem.
A partir desse dia, comecei a
sentir que meu corpo mudava. Ganhei um pouco de peso. Meus seios cresciam.
Usava mais blusas para minha mãe não perceber. Vieram algumas espinhas em meus
rosto. Mas não foi apenas eu que mudei. Alguns garotos da minha escola e os
dois professores passaram a me tratar diferente. Os homens, na missa, me
tratavam de forma mais cordial, gentil. Me sentia muito confusa, realmente não
sabia o que fazer. Cresciam pelos em mim. Em vários lugares, realçando meu
pecado, destacando os motivos para minha mãe me desferir tapas no rosto,
confissões com o padre Gerônimo, as suas mãos quentes e macias, os terços matinais.
Mas de todos os tapas, de todas
as surras que tomei da minha mãe a pior foi quando tinha dezessete anos. Foi na
missa dominical, três dias após meu aniversário, que não foi comemorado. Às oito
e meia da manhã estavam todos na pequena igreja, abarrotando-a. O ambiente era
sempre quente e úmido. A voz do padre Gerônimo reverberava pelo local. Os
cantos e louvores levavam as pessoas ao delírio. E eu observava tudo aquilo,
com insegurança e felicidade. Olhava para o padre, com suas vestes, do alto do púlpito.
Olhava as figuras de santos. A virgem Maria. O corpo esguio e suado de Jesus
Cristo, a martirizar-se na cruz. Os cantos vinham cada vez mais intensos, cada
vez mais oníricos. O barulho era generalizado. E eu cantava, proclamava, com
louvor, minha fé em Deus. Em Jesus Cristo. No Padre Gerônimo. Nos meus dois
professores e em todos os garotos do colégio. Nos filhos das senhoras, presentes
na igreja. Eu cantava alto, com todos. Transpirava. Me toquei suavemente e
vinte segundos depois eu sentia como se estivesse explodindo. Me contraía, não
parava de cantar com a multidão. E me toquei mais uma vez. Me sentia possuída.
No meio da multidão, me contraía. Todos foram convidados a sentar para
prosseguir a fala do padre Gerônimo, mas não dei ouvidos. Eu gritava, não
conseguia me conter. Minha mãe me olhava, assustada. Suas sobrancelhas
franziam. Foram cinco segundos de total silêncio na igreja. Minha mãe me puxou
pelos cabelos e me arrastou para fora. Dos tapas que levei, perdi três dentes.
Meu rosto parecia verter sangue. Eu olhava para minha mãe, do chão. Ela gritou:
Que deus te abençoe e te perdoe, sua suja, sua ingrata! Eu respondi, amém,
mamãe, e desmaiei, sorrindo.
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