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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Feliz Natal

Minha mulher e eu estávamos muito felizes. Nosso primeiro filho estava prestes a nascer. Não sabíamos se seria dia vinte e dois, vinte e três, vinte e cinco. Mas nosso filho estava prestes a nascer e já havíamos preparado tudo: nome, enxoval, e até o procedimento para levar minha mulher ao hospital nas madrugadas: minha calça estava sempre próxima e eu dormia de camisa. Em cima da cômoda, uma nécessaire com tudo o que precisávamos levar ao hospital: três camisolas, um robe, um par de chinelos, quatro sutiãs, meias, mantas, escovas para cabelo, decoração para a porta do quarto, batom e mais um sem número de coisas que julgávamos necessárias para o momento mais feliz de nossas vidas.

O mais incrível é que não éramos apenas eu e minha mulher que radiávamos em alegria. A cidade inteira parecia comemorar a chegada de nosso filho. Mais iluminada, quente e alegre do que de costume, até o horário de verão contribuía. As pessoas caminhavam pelas calçadas até tarde da noite. Felizes, maridos, mulheres, crianças e familiares posavam para fotos ao lado das decorações natalinas. Eu e minha mulher nos olhávamos, emocionados. E ela me dizia: Está vendo aquele pai caminhando com o filho? Em pouco tempo você também vai fazer isso, meu amor.

Era noite de natal. Passamos com a família da minha mulher. Rezamos, comemos, assistimos a abertura dos presentes, as crianças felizes com seus novos brinquedos. Minha mulher parecia um pouco apreensiva. Tudo bem, meu amor? Tudo sim, meu bem, fique tranquilo. E fomos para a nossa casa. Minha mulher estava com sono e, por isso, a deixei dormir enquanto pensava em tudo o que tinha acontecido, em como a minha vida mudou ao lado dela. Eu era um homem fechado, arrogante, descrente. Agora era um homem emocionado, feliz e não via nada além de prazer em atender os desejos da minha mulher, a quem dou graças pela minha nova vida. Dormi.

Perto das quatro da manhã, ouço minha mulher chamar pelo meu nome. Me leva para o hospital, amor, é agora. Meu coração disparou. Calça, camisa, nécessaire, chave do carro, chave da casa, portão da garagem. Estávamos a caminho do hospital. Minha mulher gritava de dores e eu, trêmulo e em vão, tentava mantê-la calma. Só mais um pouquinho, amor, já estamos chegando. E chegamos ao hospital e ela foi levada rapidamente para o parto. Eu, olhando cegamente para a televisão, imaginava minha mulher abraçada ao meu filho em poucos minutos. E eu abraçando-os. Havia me tornado um homem muito emocionado.
Eram quase seis da manhã. O médico entra pelo corredor, vem até mim. Em suas mãos, já sem as luvas, apresentavam uma linda aliança dourada na mão esquerda. O médico vem até mim, eu levanto. Como foi, doutor?

Sua mulher tem algum problema de saúde? Ele perguntou. Não, doutor, minha mulher é muito saudável. Aconteceu algo? Eu nunca havia me sentido tão aflito. Sim. Nesta noite sua mulher ingeriu uma grande quantidade de remédios abortivos e seu filho está morto. Eu lamento. E ficou me olhando.

Saí do hospital lentamente. Liguei o carro e saí pelo portão. Alguns metros depois, paro no semáforo. Ao lado esquerdo, na calçada, havia um grande outdoor, bem iluminado e escrito em letras garrafais: “Feliz Natal!”.
5 Somos Bem Normais: Feliz Natal Minha mulher e eu estávamos muito felizes. Nosso primeiro filho estava prestes a nascer. Não sabíamos se seria dia vinte e dois, vinte e trê...

Um comentário:

  1. Vitima do Tratamento12 de março de 2012 às 17:35

    O Marketing da Loucura:
    http://www.youtube.com/watch?v=6X3Khv2ura4

    Psiquiatria: Uma Indústria da Morte:
    http://www.youtube.com/watch?v=c1NF7x-yfuc

    PSIQUIATRIA - Lucros de Matar
    http://www.youtube.com/watch?v=7-I6uCb1g1I

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